quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

shaking paper

Chan Marshall - cat power

Tenho em mãos essa caneta e esse papel trêmulo. Nele eu teço linhas e orquídeas multicoloridas de palavras desconexas. Tenho essa mão trêmula e essas idéias trêmulas bailando no papel, sob minhas plantas eu faço dançar minhas idéias, elas não parecem ter o peso do mundo na forma como dançam, só dançam. Feito vagalumes no escuro, num vôo mais rápido, mais largo, por entre os galhos, numa direção circular, ascendente, e se os tocam brotam e desabrocham flores como num passo acelerado de primavera. É o transparecer das minhas palavras, o espreguiçar das minhas idéias, a construção dos meus cenários, das minhas mulheres e figuras, dos meus homens e confissões, dos meus casais e realidades.
Em minha mão trêmula a caneta parece ganhar um intuito e o papel parece entender, se abre, então, nosso jardim, é algo bom a vida dos objetos. Dos meus casais eu escolho um, das realidades, meus objetos escolhem a minha e nós seguimos no ritmo dessas vozes femininas, de tambores africanos, desses acordes livres uns dos outros. Esse caos musical, o meu caos lírico, nossa dança contemporânea. No esticar dos corpos eu lembro o corpo dela, seu toque e meu tato, nosso movimento, meu ritmo, seu desenho e minhas orquídeas. Ela percebe minha vontade e recua, eu entendo a sua, espero. Seus olhos. Minha orquídea impõe seu movimento e eu apenas sigo, as curvas chamam minhas mãos e pelo toque eu decido meu tato e minha mão torna-se firme e ela enrijesse, suspira. Desliza. Volta e me beija. Ou me morde, ou me deixa. Ela dança e se perde, fecha os olhos e me esquece. Minha orquídea parece madura agora, eu pareço entender e ela me deixa ver e decide o passo, o ritmo e a voz da música. O pintor afasta o pincel da aquarela terminada e joga seu olhar, eu seguro minha mão sobre o papel, o jardim desenhado e então jogo a caneta. Ela pára, sente e sorri, jogando de lado o corpo. Meus olhos batem asas de borboleta e visitam os dela, visitam o meu jardim e repousam na orquídea a morrer.

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