quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cadeias orgânicas

Desenhe uma linha em um papel colorido. Não se faz uma grande viagem sem um primeiro pequeno passo. Escute uma canção e espere. Uma verdade irá simplesmente pular do alto falante e surgir a partir de nada aí dentro dessa cabeça vazia, como se fosse sua, como se sempre houvesse sido.

É assim que eu tenho me complicado, me engulido, me descarbonizado. Em moléculas largas demais. Sabia que andam explodindo coisas por aí usando seu lava louças? E eu ainda não consigo me dedicar a nada, assim como quando nos beijávamos. Você diz o que diz e eu não entendo o que queres dizer.
A verdade é que penso conhecer minha metria de um jeito displicentemente razoável. Revoltantemente satisfatório. Os relevos não tem se alterado de forma geral, mas minhas depressões aumentam e fazem sumir as planícies que tanto me desejam ter.
Complicando, engulindo, descarbonizando. E no decorrer sente-se como morrer dentro de um sonho. Em moléculas que chegam a me levar retalhos da pele. 3 x 4. Reconstruindo, eu acabo por me constituir do que tiro do chão. E ponho na boca. E devolvo pra rua em pedaços grandes demais. Mas tudo que é sólido se dissipa no ar. E eu me pergunto se acordo com alguma coisa a ver com isso.

O Joãozinho acordou mais cedo hoje, assim sem motivo. Em pleno domingo. Andou pela rua levando nas costas, dentro da mochila, a sensação de que o apocalipse havia tomado palco enquanto dormia. O que não pareceu nada necessariamente ruim, o sol era claro, mas ameno, as pessoas eram poucas e sonolentas, mas simpáticas. Decidiu que queria comprar pão e pediu dez, descobriu que a cafeteira hospeda baratas, mas não alarmou nenhum dos intelectuais. "descoberta a origem das estátuas de páscoa", "10 maneiras de qualquer coisa", a primeira página e as notícias de futebol. Era domingo, mas só porque o jornal parecia mais espesso. Não tinha nada a ver com a falta de compromisso nem com o simpático clima de apocalipse then. Na vontade de não voltar para casa acabou por voltar e ligar a TV. Era domingo, de fato. Passarão tempo e espaço. Segunda feira. mais tempo, mais espaço. Problemas, pessoas, um sonho aqui, outro ali, outro domingo. Mais alguns continuuns e dormidas e Joãozinho morrerá, não faz diferença o porquê. Renderá algumas conversas, talvez até uns constragimentos. Agradece-se por não haver uma camisa com foto nem coisa do tipo. Ele tem uma conta bancária que será difícil de encerrar, mas não deixará dívidas. De promessas não cumpridas ficarão duas: uma bicicleta nova e um jantar à luz velas, a última bem antiga. E todo mundo dirá que o Pedrinho é a cara do pai.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Portas giratórias.

Pronto Freddie, já podemos dizer o que quisermos agora.

Com todas as luzes apagadas e ninguém mais aqui, eu acho que já posso contar o segredo: nada é certo. A eternidade dura o tempo que se leva para falar dela. E eu não digo por mim. Eu já empilhei os discos e os sacos de areia. Digo por você, que ainda vive os dias, lugares e pessoas, uns após os outros. Lembro de ter ouvido muitas estórias de mais de quatro cantos. Me corrija se estiver errado, mas eu acho que aquelas pessoas fazem parte de mim tanto quanto qualquer um de vocês. Aqui dentro não faz a mínima diferença. A quem você acha que eu pediria conselhos se eles me servissem de alguma coisa, às suas bocas e línguas e dentes? Está tudo aqui, muito bem guardado. Eu posso ouvir quando bem quiser e, deixando só entre nós, o que eu bem quiser. Aqui, desse jeito, eu acendo uns e os deixo queimar. Só pra trazer o clima. Agradeço a sua visita, sinceramente. Mas te reservo o direito de ir embora, quando quiser e de certa forma, como quiser. É uma maneira de não ter de te mandar sair sabe? Assim, dizendo, brigando. Levando a culpa.

Mas enquanto estamos aqui, vamos dançar. O Disco do Medeski é o que eu tenho guardado para as visitas ultimamente. Você escuta o que quiser em casa, talvez numa outra visita, mas aqui, eu quero Medeski. Sabe, eu realmente acho que existir é como dançar aquela música da casa de bolhas. Um belo dia você acorda e aperta os olhos contra a luz do sol direto na sua cara, "Seja bem vinda, pessoa qualquer...mas que você está olhando?" E não há tempo para se entender muito porque sua mãe quer que você consiga um bom emprego, então você pisa as cabeças que conseguir até alguém pisar a sua. É uma pirâmide humana e melhor se segurar onde conseguiu parar, dar as mãos a quem está por perto e esperar que o próximo a cair seja o dono do pé que suja sua bela roupa de natal. Que bom, ele caiu. E você não sobe simplesmente porque está de mãos dadas demais. Agora me entende a porta de saída aberta certo? Muito bem, segure-se quem puder, e é melhor fazer rápido e mais rápido porque o papai pode ir-se daqui a qualquer momento. É, mais rápido, ninguém disse que criar três filhos seria fácil. Rápido, a sua garota está grávida e o seu marido acabou de perder o emprego. Rápido. Você tem um feixe de luz a pegar. Rápido, ou o sangue dessa cidade vai escorrer para fora dessas antenas. Rápido, mais disso aqui e mais daquilo lá, porque temos que ver a transmissão ao vivo antes que o mundo acabe mais uma vez. Rápido, amor, mais rápido, mais forte. Porque se você perder o ritmo, no próximo acorde você cai.

E a mão que seguramos, ela nos solta. Sim, ela solta e você não vê nenhum dedo entre meus dedos. Não se preocupe querida, vá apenas quando e se quiser ir, eu não vou me mover nem que Elliot traga mais um mês de abril e Dante me providencie alguns círculos de fogo sal e sangue. Não lhe faltarão mãos e cabeças dispostas a serem pisadas se puseres os peitos pra fora e as idéias pra dentro. Ainda há muita fumaça e eletricidade e, enquanto tocar Medeski, eu fico.

domingo, 25 de outubro de 2009

Pequenas cobaias narcisistas

Lá de cima
Eu quero ver se dá
Algum trocado entre a placenta e o caixão.

Se eu pudesse filmar
Você faria um documento
E preto e branco
do seu melhor perfil

seu ponto de mutação
seu ponto de direção
sua
unidade
relativa

seu ponto de vista

Que será...
quando crescer
Que será...
em dissolver
então
dissipar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Entorpecer

Eu só queria um minuto agora. Sem esse medo constante. Sem esse gosto amargo da dúvida. Sem anseios e náuseas. Alheia a tudo o que me cerca por acreditar que assim será possível. E eu ando tropeçando nos meus próprios pés. E eu sei que eu já tenho dito muito isso. Mas é como me sinto nesse mundo de cinzas. Elas dissolvem nos meus pés fazendo-os tão similares ao chão que já nem sei distinguir, qual dos dois me dá mais instabilidade.
Eu caminho sempre reto, pra não me deixar envolver demasiadamente nas curvas. E tenho medo dessas flores que me hipnotizam aos poucos, que se abrem lentamente. Pétala por pétala. Quando me olha, me sinto assim estranha. E não sei se devo entrar no seu jardim. Porque ele parece muito atrativo e eu tenho as minhas dúvidas do que te atrai. Não quero me arriscar assim, pois teu relógio balança conforme tua música que nunca ouvi. E a tua voz tão perto, me faz soluçar de vergonha.
Sou uma menina. Com olhos curiosos e mãos inquietas. Com pernas grandes demais para os próprios passos. Com passos pequenos ando por caminho desconhecido. Penso em qual porta devo entrar para te encontrar. Penso se irá me convidar para a próxima dança. E me sinto confusa. E me sinto estranha. E te sentir assim tão perto... Nesse curto espaço do tocável intocável, me faz ficar com as mãos gélidas. Perco-me em você e tento resgatar-me em teus braços. Mas o teu cheiro me deixa tão tonta, que chega a ser um crime.
Vou tentando organizar as minhas palavras. Mas elas me escapam antes. Tento te guardar em mim para que não sinta tanto a tua falta quando você se ausentar. Eu te olho e tento gravar cada detalhe teu no meu mundo. Mas quando te procuro nada mais encontro que minha própria estranheza. É apenas meu pequeno mundo. Meu confuso mundo. Meus sentimentos enrolados, como meus dedos nos teus, durante aquele momento em que te tive pelo menos ao meu lado.
E do teu lado me sinto instável, mas segura. Nos teus ombros repousa a minha paz. E repousa o nosso momento. Queria eu que nosso tempo se estendesse, assim preguiçoso. Sem pressa alguma. Com você se estendendo sobre mim. Quem sabe meus instantes se depositem em você. Quem sabe você me fará sentir um alguém mais importante. Nesses dias que me sinto apenas uma flor dentre tantas mais bonitas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

noir colorido.

Lembrança fotográfica é só o que me resta de tudo que eu faço nessas noites,

afora a náusea, claro.

É coisa de poucos segundos, só mesmo o que não importa. Todas aquelas cabeças por cima dos bancos são só bonecos de teste, mãos movendo-se em flashs, os olhos do anjo na face encardida de deuses. Jogados em pelo menos cinco esquinas. Tudo o que meus olhos viram não é nada comparado ao que minha memória traduz. São tantos horrores e maravilhas, amor. Não gostaria que você estivesse lá. Apenas fique por aqui, apague a luz, aumente o volume e faça amor comigo. Me ouça, meu amor. Me compreenda. Depois me faça sanduíches.

Eu estou aqui pronto para cantar um mundo de irrealidades, minha cabeça cheia, cheia, cheia das mais aterradoras estórias para se contar para os vizinhos e para vocês, mas enquanto isso nossos netinhos estarão lá precisando ouvir os absurdos do real. Apenas por entretenimento. O "seu ninguém" morreu. "nossa", você diz. O "senhor alguém" morreu e isso é apenas entretenimento.

A música é alta e é só o que importa.
porque volume é o que expulsa tudo o que fica preso
nesses all stars
nesses jeans
nesses 98% de algodão penteado.
Nessas cicatrizes.

E é por isso que você não pode me pedir para que eu incomode apenas a mim. Bater a minha porta já é o fim da diplomacia, entre você e eu cavam-se trincheiras atrás de sorrisos. E na minha casa as palavras são disparadas a queima roupa. Eu não baixo o volume nem as armas.

não reconheceria o barulho de tiros se ouvisse.
mas tenho quase certeza que meus vizinhos são baleados
toda semana.

Uma muito boa noite a todos, eu lhes trago lágrimas e balas de goma, na ordem que preferirem. Toda a verdade será jogada nos ventiladores e espirrará em suas faces ao final do espetáculo. E os banheiros são logo ali.
Aceite esta pequena bebida querida N. e a noite descerá mais suave, você vai gostar e no final de tudo, todos nós ainda iremos participar de um churrasco de domingo. Estamentar horas de certezas sobre assuntos que não fazemos a mínima idéia.

Concordaremos
e eu concordo:
tudo é um absurdo.

Costumo passar por cima de muita coisa, pessoa, inseto e buraco, sem grandes épicos sobre. Ainda quero mesmo aprender a guardar o que escuto, não o que vejo. Porque eu não sei desenhar. Mas eu conheci um certo um, certa vez. O homem fazia com a mão, o lápis e o papel, linha por linha, daquele jeito tremido, qualquer coisa que lhe viesse à idéia. E éramos jovens, essenciais, atemporais. Agora um homem não pode mais simplesmente expressar como deus lhe dá o mundo, tem que misturar, colorir, vetorizar, justificar e referenciar. Fazer o seu, o meu e o nosso. Tem que ser infinitivo demais pra mim. Soube que agora ele não rabisca mais um xis num mapa de pirata. Não sabemos mais onde está o ouro nem se queremos encontrá-lo. Não acreditamos mais em reflexos, ele e eu, porque nos barbeamos usando caleidoscópios.

eu me esparramo em non-sense
e deixo os acordes construindo paredes
embora nesse cenário noir
só mesmo Davis.

Quanto ele, a última que ouvi conta que gritava pela mãe com uma faca de cozinha nos pulsos,
de joelhos sobre o chão.
Me pergunto se poderia copiar uns daqueles desenhos. Deixo pra lá.

Cinzas

Tudo assim de repente passou. Novembro chegou. Outono em mim com ares de inverno. Era uma febre. Um vício. E mais uma folha de calendário ao chão. Com tantas folhas lá fora espalhando-se. Dance com o vento outono. Em folhas recortadas em flores caídas e pisadas. Eu queria ter um pouco de neve no meu jardim. Um pouco de branco. Mas são cores amarelas e alaranjadas. Vermelhas são minhas flores que caem logo ali. Onde eu não posso chegar agora por ter medo.
Eu queria ver o céu se enrolar. Dançando com o outono com as folhas e os lençóis estendidos. Como uma menina a girar. Olhando pro céu, vendo ele se enrolar. Se enrolando nos lençóis. Caindo em folhas. E olhando todo aquele cinza cabendo em minha mão. Por entre dedos o sol. Por entre nuvens. Os lençóis provavelmente não enxugarão hoje.
Amanhã quem sabe ele irá voltar. Trará para mim doces em cestas coloridas. Eu lembro de andar segurando sua mão. Ele me segurava. Me impedia. Correr entre as flores vermelhas é proibido. Eu chorava e me contorcia. Os dias passavam. E ele se afastava cada vez mais. Em um outono qualquer, ele me beijou. Em um inverno qualquer, ele se foi. Pisando na neve e nas flores vermelhas. Entre as folhas que ainda caiam do outono recente.
Eu pensei ser um sonho aqueles anos. Toda aquela vida. Em que outonos e invernos se misturavam num céu sempre cinza. E quem sabe eu não esteja vivendo assim no sonho de alguém. Alguém que se balança em uma rede num dia ensolarado.

Vento

é estranho esse andar... esse movimento constante me balança pra onde eu deveria ir.
e é tão difícil acompanhar aquela música, esse ritmo que toca, que faz doer.
e agora sinceramente eu queria ser mais um pouco de você para que eu podesse me ver um pouco mais.
distante.
assim quem sabe eu poderia me sentir um pouco menos pesada.
e não seria eu responsável por tudo o que se situa entre mim e você.
entre você e além de mim.

é um ritmo.
sempre os mesmos acordes.
as mesmas batidas nos mesmos locais mais inflamados.
o mesmo toque numa intensidade diferente.
tudo se repetindo.
uma orquestra infernal tocando desafinadamente poemas...
...e quando eu acho que estou entediada
meu pequeno clown me faz entender...
que a dança continua mesmo com meus restos ao chão.
que o teatro é sagradamente patético.
que não se há mais nada a desejar
além de projeções alheias em paredes inclinadas.

há uma mulher ali vagando
esperando quem sabe quem
esperando um lugar a pertencer
ela tem vestido rodado daqueles que balançam com o vento
e tenho inveja do seu caminhar
se eu pudesse eu a tocava
aquela mulher que desliza entre as calçadas
e que faz um som a mais naquele mundo
ela balança mas não reage
é como um galho daquelas árvores que sempre vejo em sonhos

apenas esqueço... e já não sinto mais.
mais nada
além de mim sem você.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Albuns.

Voce já sentiu como se uma cicatriz antiga doesse? Ou mesmo uma vergonha passada ainda contraisse sua face? Imagine ainda sentir a dor em um membro anestesicamente amputando. Percebo que por vezes faço planos que acabem por demolir meu castelinho de cartas. Me parece tão pendente agora, ainda que sem parecer ceder nenhum centímetro, nenhum segundo para as fotografias que eu vejo por aí, tão presentes e tão cheias de expectativas que eu não penso mais poder alcançá-las. Você está livre para partir agora, sempre esteve, na verdade. Quem eu quero enganar aqui sou eu.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um bilhete para N.

Querida complicação,

Porquê deixar aquelas flores exatamente onde estavam, eu ainda não sei, só não me pareceu certo fazer qualquer contrário. daqueles crepúsculos que tinhamos guardado, estou levando o da Emily, por nada além de poder carrega-lo na minha mão. Precisava de alguma luz e você sabe como anda meu astigmatismo ultimamente. O por-do-sol que te deixo é suficiente para dividires com qualquer outro alguém, só evite colocar na geladeira de novo, assim como as bananas e o pão, não vai servir mais para ninguem se não fizer como digo. Quando volto, eu não sei nem se. Estive pensando muito nessa ultima vida alguns "e ses" sobre o mar. E se a água cortasse minhas idéias, e se ela cortasse minhas veias, se ele cortasse minha consciencia, eu estaria livre amanhã? Talvez e se, eu te traga um cavalo marinho e um palhacinho eletrico. Estou levando os poemas de Donne. Não se preocupe, não vou lê-los, mas o amassado me faz lembrar o teu seio pressionado contra a capa enquando você dorme. No mais, não sei nem se. Deixei as melodias das canções de ninar em alguma gaveta. Não me espere, mas guarde meu lugar até a ultima sessão.

te deixo o que houver de melhor fora do meu corpo.

Tua paz.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Enquanto o mundo explode

Dentre tantos corações de casimira, de tantos firmes e calorosos espíritos do leste, eu me sinto de um outro tecido. Incerto, frio e sombrio. Para dias quentes. Algo barato, fácil. Dentro do comum. A vida teceu assim, sem apresso ou preocupação, com uma mão cansada. Como uma mãe cansada, uma mãe mecânica, entediada.

superestimadas são a vida e as mães.

Por mais que eu me engane e traga o céu com colagens, misturas e cores, eu não sou muito mais que uma sombra, uma visão do apocalipse, um acidente que não vai acontecer. Enquanto colo nuvens e te traduzo em linhas e letras no papel, seus olhos não encolhem e seu ar não se altera. Eu vejo gelo derreter dentro do copo, mudo gotas de lugar, brinco de manchas de feixes de luz. Esfrio para ponteiros ainda movidos por calor.
no fim, eu não quero mesmo que o tempo passe.

domingo, 11 de outubro de 2009

poeira púrpura.

o tom de uma canção
púrpura feito lua sobre sol
espera-se partir no amanhecer
e eu não conheço mais nada

cada último segundo
é mais um pingo
em mais um i
dedicado a alguém
que não você
que nem a mim.

um.
sentido.
morrer.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Subterrâneo II


well i'm scared of riding a falling star.
but I got time, if you call me I can't deny.
and I want to go back home,
I just don't know what to do
with my haste
and nothing
and useless time

to keep a pace
with something
but warning signs

can I want just to stand by
and never play the part
of a never landing guy

if we're better than we've ever pretended to be
what I ask and wonder is why
what I ask and wonder is why
what I ever wonder is why...

Alguma coisa caía morta naquela noite. E ninguém tinha nada a ver com isso. A filha de alguém, o problema de alguém e ninguém tinha nada a ver com isso.
Ao redor da mesa uns quatro, cinco universos passageiros. Jogado sobre ela apenas o mais absoluto conjunto de existencias. Imateriais e vazias. Vestidinho colorido, de retalhos quadriláteros. Dois, três centímetros de lado. Vermelho, roxo, azul,vermelho, amarelo, vermelho. "TV set", "68", "warhol", "peace", "love", "war". Azul, amarelo, vermelho. Os outros eram apenas all stars e camisetas brancas e aros grossos, essas coisas. Das coisas que se odeia, dos absurdos que se vê, que se ouve.
Acontece que pessoas falam e isso dói e dor não pensa, só responde.
Siga olhar, acompanhando a fumaça, subindo ao reino dos céus, condensando sob o disco voador, o alienígena bipolar com lápis e papel na mão estudando a síndrome de tourette, a linguagem, a realidade. Por um módico, simbólico sacrifício pode-se estacionar sobre a terceira nuvem a esquerda, sob os olhos, as preces e flanelas dos anjinhos cacheados, ao lado direito de deus. Acima disso, não se sabe, liberdade talvez. Uns quadros da Marilyn pendurados nos macacos, comidos por morangos de saia. Muito mais que isso, tudo com lasers. Acima de deus e de toda moral da história apenas japoneses dançando can can para cadeiras sorridentes num deserto de jujubas, debaixo de um escaldante céu de metáforas sanguinolentas e sádicas, empilhadas ao final de uma esteira industrial. Acima da janela do apartamento divino mora apenas um sorridente e solitário livre arbítrio.

através das lentes extraterrenas estou eu trabalhando na árdua tarefa de desviver, passando o tempo com o tempo e a TV, brincando de quem piscar primeiro. Eu queria um Dali aqui. Na minha parede.
No mais, aqui eu fico. Porque, com todo o coração, eu quero.
Eles lá vão. Porque, e nada além de porque, podem, nada mais.