sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Que nunca mais

"tudo aos pedaços, aos poucos
o menino perdeu a voz
o homem perdeu a si
e as cores deixaram de cantar
e as manchas se deixaram esvair
o sol nunca mais disse adeus
aos pedaços o menino perdeu a voz
aos centímetros o quarto encolheu
os olhares as manchas abandonaram
a nuvem nunca mais foi tão doce
o céu nunca mais contou histórias
nem acordou risonho pra avisar que o dia nascia sábado
eu ainda queria ter a voz
eu ainda quero
a voz do menino
e eu ainda quero
continuar perdido
na liberdade do homem"

terça-feira, 15 de setembro de 2009

apenas barulho

é toda e apenas um pouco...
é essa sensação de angústia
nos meus dias perdidos
eu ando sem rumo
e tropeço nos meus próprios pés
sobre chãos alheios me esparramo
esperando cair em teu colo
é apenas um pouco
esse todo
essa sensação toda
que me preenche quando me invade
que me invade e me machuca
e é boa
e é má
e é algo além de mim
de ti me arrependo
não ter ficado
permanecido
mesmo em silêncio absoluto

doísemUM ( hey, jude )

ELE ME DIZIA QUE EU ERA DENSA.
MEU PEQUENO APANHADOR DE FLUÍDOS...
ELA ME DISSE QUE EU TE ABRAÇAVA COM DOR.
ORAS, EU SOU DOÍDA, EU SOU A DOR; SUA DOR QUE REFLETE EM MIM, E ME FAZ DOER.
...QUANTAS INFORMAÇÕES DADAS E RECEBIDAS POR GESTOS E PALAVRAS AFIM DE TENTAR FRUSTRANTEMENTE ENCOBRIR OUTRAS...
O PSEUDO-meu, QUE EU CONVIVO CALOROSAMENTE EM ATRITO TODOS OS DIAS, NAQUELA CASA FRIA, LÂNGUIDA, E MAL ACABADA; ME FAZ QUERER ESVAIR POR ENTRE DEDOS QUE NÃO SÃO DA COR DO PECADO.
O meu-PRESENTE, ONIPOTÊNTE, 'CONVENIÊNTEMENTE CALCULADO EM SOMAS MATEMÁTICAS, AFIM DE NÃO desgastar AQUILO QUE ACHA QUE SE POSSUE', ME FAZ encolher...NAS NOTAS MAIS GRAVES DE UM TROMBONE...
NÃO SAÍA.ABAFE A MINHA DOR.COM A SUA DOR.
ELE ME DISSE:
'VOCÊ VEIO EM RECORTES GEOMÉTRICOS COMPLICADISSÍMOS E DESCOLORIDOS'
[PAUSA]
(você quer sugar e receber em dobro o vinho da uva podre?)
...NÃO CONSIGO DECODIFICAR AINDA QUAL É A PARTE QUE TE CABE COMO CRIADOR, OU COMO CRIATURA QUE SE TORNOU, AFIM DE LEVAR ALGO OU ALGUÉM A UM PATAMAR JAMAIS ELEVADO...
...
EU DIGO QUE te amo.
[PAUSA²]
NOSSO CRONOMÊTRO ESTÁ LIGADO.
DECRESCENDO NA VELOCIDADE DA VERGONHA...
O QUE NOS FALTA É O TEMPO, O QUE NOS SOBRA TAMBÉM...
eu, ESTOU ANDANDO NA PONTA DOS PÉS E NÃO DOÍ.
...
VOCÊ FOI TECENDO AS LINHAS DO MEU IMAGINÁRIO
E EU FUI DANDO OS NÓS...
[RESpiração]
NÃO DOÍ TANTO ASSIM.
NÃO DOÍ. A DOR PROVOCADA É CALCULADA AFIM DE SUBVERTER O QUE ELE CHAMA DE amor.
...
'se você me disser que fica eu SÓ encolho ao te abraçar...'

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

JACK ESCAPISM

acima de mim só o espelho embaçado.
eu digo que vou subir no próximo vagão de trem que surgir, rasgando o monótono céu azul-prateado.
ele me diz umas frases sem sentido, que talvez mais tarde, lá pela quinta cidade, eu entenderia.
eu queria ter ficado, jantado naquele dia insípido, o frango xadrez com a boa coca-cola - é claro que o fato de eu ter desejado o prato do dia seguinte tinha a ver com você, com sua sagacidade, com sua subversão aos meus dogmas e princípios infundáveis. por que eu adorava o jeito como você me cortava. como você conduzia minhas nóias de outubro á dezembro. de como você me deixava relaxada na poltrona azul-limão da mamãe. eu acendia todo-e quaisquer cigarro, só por que você gostava de me ver acender. só por que me dava uma graça divina. um poder sobrenatural. naquele momento eu era o quadro. eu era a criatura e você o criador. assim como nas nossas horas 'vagas' - doce ilusão do poder - que eu simplismente consentia á você. e você sabia. só por que era tão desejável quanto eu.
na sexta cidade meu peito doía, eu estava com fome, e os escapismos já não me faziam mais efeito...
eu queria ter dito: me pede pra ficar, me pede pra ficar...
eu acho meu orgulho mexe diretamente com meu estômago.
eu vejo pontos de você, picotados em cada cidade que eu passo.
você já teve barba, dread, cabelos avermelhados e mais musculoso.
nenhum tinha sua ira maternal.
ninguém era tão casual quanto você.
eu esperava te ver em cada taça de vinho barato, eu até te via.
imagine você...
você devia ter me impedido, devia ter me boicotado...
mas, talvez nós acabassemos ali.
você me impedindo, eu vazando ódio...
...foi melhor.
guardo você.
seu cigarro é sempre o último, é sempre o mais demorado.
me peça pra voltar, que eu volto.
me peça pra partir daqui, que eu parto...
'Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais'

não subir aquela rua.

não me faz falta. o que eu nunca quis nem ouvir e agora tem que fazer parte de mim. eu vou guardar no mais profundo de tudo e como quase tudo o mais, aquilo apenas pesará. mas hoje eu não saio da minha caixa, nem abro meus braços. não vou subir aquela rua, não vou subir aquela escada, não vou subir nessa vida. eu esperaria que os anos se fossem e os dias nunca mais acabassem. porque eu odeio ter novas oportunidades, essa descontinuidade e esquecimento. eu quero sofrer com os erros e refazer o quebra cabeças sem ter de desmontá-lo. hoje eu não vou sair da minha caixa. cada dobra do papel será entendida antes que eu construa uma estrela. os contornos e mistérios das páginas amareladas não serão do passar dos anos, apenas do tempo. hoje não se acaba até que tudo se acabe, tudo se entenda, todo querer faça sentido. hoje não se acaba enquanto amanhã ainda tiver alguma razão de ser. ainda hoje, apenas não agora, eu vou subir aquela rua, eu vou pegar aquela estrada, eu vou me jogar daquele prédio. hoje, que eu decidi não sair da minha caixa.

condição

de onde vem
e pra onde vai?

pode-se ir
e eu vou ficar.

quanto do tempo
pode contar
se está aqui pra se esperar?

pra onde voltar
pra chegar
onde tem
existir além de estar?

calço nos pés o que preciso na cabeça
o mesmo lugar
a mesma pedra.

se bem me lembro
esqueço que há
algum motivo pra ficar.

e se enforcar
e esperar
um alguém
que te entenda o descompletar...

domingo, 6 de setembro de 2009

à propósito da brisa seca.

você devia tecer desculpas
à todo e qualquer costurar no mínimo pensante.
só umas poucas linhas, portanto.
mas não se nega a tanto mundo
tanta alma.
nem se silencia esses dentes
se esses olhos traduzem os de Munch.
não se afasta desse corpo
o mínimo de seu merecido,
implorado, sexo.
essa porta já não fecha mais.
por mais que se feche os olhos
se cale a boca.
se tranque o quarto, tape os ouvidos, atravesse pessoas.
só se ofende.
o teu desespero te torna repetitiva
redundante,
previsível,
óbvia,

desprezível.

te digo se deixares
que existe o esquecido
o desconhecido
o ignorado
o reprimido
em tudo o que vimos,
tudo o que não se julga,
que não te agrada,
que hoje me liberta
e até hoje te torna bela.

todo romantismo é piegas.
se ele te olhar um eu te amo agora
será ecoá-lo mais infinitas vezes.
quando eu disser que te tenho ódio.
será para pedir inúteis
mil
desculpas.
pois números não intensificam.
antônimos não se perdoam.
e teu silêncio
já não te esconde.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dos absurdos não te o são.

Não existe isso de som do silêncio
nem de peso no vazio.
Quem dirá o voltar de quem não foi.

Talvez uma insustentável leveza ou...
uma saudade do futuro,
quem sabe deuses nas calçadas e ...
a morte do tempo.

A viagem inerte...

e com certeza, sempre o nunca se saber.



peço-te agora que não discuta,
não argumente, não seja.

vê?
leveza, vazio, silêncio
beleza.

Só pra morrer.

Você toma todo o caminho pelo inferno
com uma coca-cola na mão
por tudo que você pensa sonhar.
E não materializa.