quarta-feira, 6 de maio de 2009

Burning bridges

Lá depois daquele sino tem um jardim de flores amarelas, amor. E quando ele toca lento, elas balançam, como se fechassem os olhos, as pétalas e simplesmente fossem sino e vento. Lá, nesse jardim, se a gente subir pelos caminhos, bem ao centro tem uma árvore, folhas vermelhas de pôr do sol pra sempre. Elas nunca caem, as flores nunca murcham, nunca nem anoitece, lá. É tudo tão bonito, amor. Sabe que combina com aquele teu vestido, o jardim? É, aquele amarelo que eu gosto em dia de sol. Quando bate o vento. Nem sei se já te falei. Do vestido, ou da verdade sobre os teus olhos, do toque das tuas pernas. Ele combina, amor. O vestido. Vocês combinam: meu amor, o vestido, o jardim. Eu te imagino tanto lá. Te ponho no mesmo cenário e nem preciso misturar cores, tons,trocar pincéis. Você está lá, sob a árvore, por entre as flores, em par com o vento. Te ponho numa moldura, mas parece que teu vestido e teus cabelos nunca param de falar com a brisa. É tudo tão lindo, amor. E sempre que o sino toca, você está lá. Tudo tão constante, condizente com teus tons de crepúsculo.

Mas esse som me deixa olhos pesados sempre que te leva embora, porque lá tudo te faz sentido, como o mosaico do teu retrato.

Eu tentei entrelaçar o preto dos teus cabelos com o escuro do meu céu. Ele insiste em amanhecer claro. E minhas estrelas e tulipas não reparam no teu vestido. Nem meu sol pálido te reflete. Eu tentei. Mas os retalhos do pierrot não são coloridos nem se podem colorir. Meu retrato é tão sem foco, sem forma. Minhas peças simplesmente não se encaixam. Mas o que me entristece é o meu jardim, as tulipas brancas, o luar, nada combina com teu vestido amarelo, com as tuas flores.

Lá depois daquele sino tem um jardim. Não te levo lá, não.Que tenho minhas vaidades, minhas promessas. Mas sempre espero, amor, com tristeza, o pôr do sol te levar.

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