segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meias limpas

Você vê que nós construímos um deserto aqui, certo? Eu entendo que ele não é lá grandes coisas, mas ele é nosso. É dessas coisas pra se carregar no peito e fazer uma oração:

"Querido Senhor, este é o meu deserto, não faz jus ao reino dos céus ou terra, mas é meu".

Entendo que é apenas um monte de nada, sem razão, sem significado, mas muito foi dito aqui para que se tenha chegado a isso. Verdades foram ditas. E só a mais pura verdade para criar um abismo tão grande entre nós. Agora os dinossauros já têm onde caminhar livres, onde eu me encerro e você toma a vez.
Pode ser que seja apenas comigo, talvez seja por alguns sonhos, talvez os sonhos sejam por se ser o que é. O fato é que eu tenho vivido constamente num quadro de Monet, sob esse imenso céu de baunilha, com o meigo conforto que me traz ver meias limpas. De forma estranha eu começo a me personalizar, assim, de forma a ficar bem, me resumir, me pôr no meu lugar. Ao longo de todas essas paradas e terminais, em meio a todos esses que me ouvem ou que me falam. Eu não me preocupo por não levantar monumentos e imensas torres, nem em encher olhos, especialmente esses olhos que me olharam durante toda minha vida e ainda assim não me vêem.

Eu acordo aos sábados de manhã e minha cabeça ainda não envia uma mensagem automática para que eu procure meus sapatos, mas eu sei que isso, mais cedo ou mais tarde, não será mais problema. Assim como nessas paradas e terminais, eu irei apenas andar. Para o trabalho, para o acidente, para um outro plano.

Relendo as mensagens nas contra capas dos cadernos, eu não sinto mais a dor de antigas quedas. Eu vou apenas perdendo as sensações, perdendo as reclamações, ignorando todas as minhas visões, por fim.
Construindo meu deserto.

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