domingo, 9 de agosto de 2009

Bobagem sobre o nascer do sol.

...Pode-se dizer até que já estava acordado há tempo, mas só agora, com as costas na grama, sentia o gélido da manhã arrepiando os pelos do rosto. O sol nascia e morria no céu de Monet e já se tinha um cigarro aceso, um passo cambaleante no longe e olhos para o horizonte. A impressão que dá é que se dorme em um lugar completamente diferente de onde se desperta, o mundo se move quando se move, as coisas, as nuvens, os olhos, o mundo mesmo. Senta-se lado a lado apenas pra se ter a sensação de que algo interessante pode ser dito. Conversa-se na beira dessa estrada, mas ninguém diz nada.

"Eu podia morrer agora. Só porque eu não quero voltar. Ir apenas. Nem importa muito, na verdade, seguir já me basta, fico feliz de não ter que decidir mais nada. Eu não sei mais nada. Me pergunto se alguém sabe mais que eu e sempre me respondo que sim, nunca me corrijo se precisar. Essa grama é tão verde. Será que seria estranho deitar no colo dele? Me parece confortável agora, fosse ele um irmão. Não faria diferença. Certeza que ele não se perguntaria isso. Deitaria se quisesse. Ele já foi mais longe ou será que é sempre até aqui? Me pergunto se eles já chegaram pelo menos até aqui. Isso não deveria importar. Me pergunto se eles se importam, se eles se perguntam, o que importa. Ele deve estar pensando poemas sobre o nascimento agora, sobre o sol, a vida, a natureza e o tempo, essas coisas. Coisas que eu entendo, mas não decoro poemas. Penso se ela gostaria. De poemas, de poetas, dele, de mim. Não paro de refletir sobre nosso próximo passo, sobre quando o sol subir. É o que eu termino por ser, um reflexo do futuro no presente, aprendendo passos de uma dança ainda sem música, uma preocupação sobre o que virá a ser, dançando pelo que já foi. Ele sim, sabe o que é. Eu sou completamente inútil, tanto para o que vai ser, quanto para o que está sendo, qualquer coisa perdida nesse entremeio. Reflito muito o que ainda está pra chegar para poder sentir o prazer de trazê-lo, de muitos caminhos eu perdi a viagem, só me resta o medo de voltar."

"A natureza poupa seu amarelo para o pôr-do-sol. E para o nascer ela poupa o carinho. Porra, isso tudo é muito lindo.A gente tem que curtir. Em pensar que todo mundo ainda está dormindo, ele acabou de levantar e está aqui só curtindo ao meu lado, ela está lá curtindo a dela. A gente devia acender aqui e agora. Porra, eu preciso me libertar, atingir o contato sozinho, que nem eles fazem, sinceramente eu não sei se eles se prendem ou se já estão muito livres, se eu estou preso... O que eu posso fazer é respeitar e só. O que me importa é curtir isso tudo. É tudo muito belo, esse sol, essa natureza, quem é mais nesse mundo que pode aproveitar a beleza disso tudo? Soubesse desenhar eu pintava um quadro agora, dava pra ela. A gente fazendo amor, nós três, a grama, o sol, o céu e deus. Acho que eu estou olhando para Ele agora, e Ele de volta pra mim, e só assim a gente já se ama. Eu abro os braços pra esse olhar, nessa luz Será que ele está curtindo, sentado aqui ao meu lado? Cadê ela? Porra, que fome, a gente tem que arrumar uma grana ou voltar... esse sol vai já doer na vista."

"Está frio, vou abraça-los, depois volto daqui e eles virão atrás de mim. Me preocupo agora, que não devo. Foi uma noite boa da qual eu não posso falar, nem admitir, nem celebrar, foi além do que eu esperava apenas, mas eu não posso convidar, não posso me negar, nem querendo, nem quero. Iria mais a frente, se me prometessem não haver mais volta, nunca mais, não quero é me jogar em mais abismos e depois ter de escalá-los para voltar, só quero uma viajem mais longa com a promessa de que ela não terá volta, nem arrependimentos, nem desculpas, justificativas, castigos, sentimentos, conversas, reconciliações. Todos esses retornos que um retorno trás. Vou abraçá-los e escutar lirismos sobre o nascer e a natureza, quebrar o silêncio, levar as vontades, chamar as decisões. Mas eu discordo do que é cantado em um e do que é silêncio em outro, ainda assim preciso guardar o que já não cabe em mim. Vou voltar."

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