terça-feira, 4 de agosto de 2009

I'm back, baby!

E me deixaram outra missão. Veio, assim, de repente, pela caixa do correio, às seis da manhã. Ainda tava com sono, mas você sabe, muito tempo sem agir! E precisando de ação. Esperava que fosse para procurar um livro raro, salvar um gato preso numa árvore, descobrir os podres do novo garotão da semana, porque você não imagina como é o meu trabalho! É qualquer coisa que minha velha chefa desejar; só não favores sexuais, porque eu tenho minha dignidade.

Ela me veio com a história que estava em crise, que só agora, nessa etapa da vida, lhe ocorrera pensar a existência, seus propósitos e perspectivas. That’s so last week! Isso é algo que reflito o tempo todo! No momento livre, quando meus olhos se perdem no vazio, advinha no que estou pensando? Exatamente nisso! O que, confesso, não faz muita diferença. Minhas reflexões não me tornaram mais sábia, só mais cética. Não aconselho a seguir meu caminho, sabe. Ela parecia ser tão feliz com suas unhas sempre feitas e seus vestidos combinados com as meias.

“Descubra algo sobre o motivo da existência por mim. Tô em crise” era a mensagem central do papel que me chegara pela manhã, na claridade e frio desagradáveis. Trabalho é trabalho, mesmo cansada de me dedicar a essa causa. Ocorreu-me dar uma volta na cidade, olhar em volta, acompanhar pensamentos alheios. Tédio! As pessoas parecem seguir em frente simplesmente. Sempre em frente. Esse tipo de pergunta nem se coloca. Bah!

À noite, na cama, tive uma idéia. Eu iria espalhar pela cidade mensagens pichadas convocando ao questionamento metafísico, explodir uns prédios, e fazer uma página na internet para a articulação dos possíveis adeptos. Em breve, a multiplicação de revoltados se daria independentemente. Em todo canto, se poderia ler algo do tipo: “você tem certeza que está vivo? O que viemos fazer aqui além de sexo? O que te leva a se levantar todo dia?” E então, todo mundo abandonaria sua vidinha, o seu trabalho – capitalismo estaria arruinado; haveria roubos pelas ruas, depredação, e o caos se instalaria. Seria um bom momento de reflexão para a humanidade!

Fui dormir embalada pela imagem de explosões e gritos dos manifestantes, as ruas ocupadas, tudo pegando fogo. Acordei morrendo de sono. Maldita mania de me deixar levar pelos devaneios noturnos e desperdiçar a noite de descanso. Desisti da idéia que embora promissora iria me cansar consideravelmente. Digitei no Google, com aspas, motivo da existência. Nenhuma resposta séria. Fui ao fórum do Yahoo e lancei a pergunta, com um sorriso de esperança ao me lembrar da Wikipédia.

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