quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Bartleby: O escrivão

"[...] De qualquer forma, ele era de muitas formas uma das pessoas mais valorizáveis para mim e, em todos os momentos precedentes às doze horas meridionais, era uma das criaturas mais rápidas como também das mais firmes. Cumprindo uma grande quantidade de trabalho em um estilo não fácil de ser imitado. Por essas razões eu estava disposto a fazer vista grossa às suas excentricidades, embora ocasionalmente eu de fato tivesse alguma discussão com ele. Feito isso de forma muito sutil, no entanto, pois sendo de grande civilidade, aliás, o mais meigo e reverencial dos homens durante a manhã, durante a tarde tinha grande inclinação, se provocado, a ser um tanto quanto inconsequente com sua língua, insolente, em palavras inteiras. Agora, vendo, como vejo, o valor de seus serviços matinais, e decidido a não perdê-los; ainda que, ao mesmo tempo, sentisse o desconforto de suas maneiras inflamadas pós meio-dia; e sendo eu um homem de paz, despretencioso em minhas admoestações de trazer futuras retrucas de sua parte, decidi-me, de minha parte, em uma tarde de sábado (dia em que ele tornava-se pior) a sugerir a ele, muito gentilmente, que talvez, agora que ele parecia estar envelhecendo, podia ser uma boa idéia diminuir seus serviços, em suma, que ele não precisava vir às minhas câmaras, e após a refeição, poderia descansar até a hora do chá. Mas não. Ele insistiu em suas tarefas. Seu semblante tornou-se intoleravelmente vívido quando assegurou-me, de forma articulada - gesticulando com uma longa régua do outro lado da sala - que se seus serviços eram úteis durante a manhã, quão indispensáveis não seriam durante a tarde?[...]"

Herman Melville

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