terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cinzas

Tudo assim de repente passou. Novembro chegou. Outono em mim com ares de inverno. Era uma febre. Um vício. E mais uma folha de calendário ao chão. Com tantas folhas lá fora espalhando-se. Dance com o vento outono. Em folhas recortadas em flores caídas e pisadas. Eu queria ter um pouco de neve no meu jardim. Um pouco de branco. Mas são cores amarelas e alaranjadas. Vermelhas são minhas flores que caem logo ali. Onde eu não posso chegar agora por ter medo.
Eu queria ver o céu se enrolar. Dançando com o outono com as folhas e os lençóis estendidos. Como uma menina a girar. Olhando pro céu, vendo ele se enrolar. Se enrolando nos lençóis. Caindo em folhas. E olhando todo aquele cinza cabendo em minha mão. Por entre dedos o sol. Por entre nuvens. Os lençóis provavelmente não enxugarão hoje.
Amanhã quem sabe ele irá voltar. Trará para mim doces em cestas coloridas. Eu lembro de andar segurando sua mão. Ele me segurava. Me impedia. Correr entre as flores vermelhas é proibido. Eu chorava e me contorcia. Os dias passavam. E ele se afastava cada vez mais. Em um outono qualquer, ele me beijou. Em um inverno qualquer, ele se foi. Pisando na neve e nas flores vermelhas. Entre as folhas que ainda caiam do outono recente.
Eu pensei ser um sonho aqueles anos. Toda aquela vida. Em que outonos e invernos se misturavam num céu sempre cinza. E quem sabe eu não esteja vivendo assim no sonho de alguém. Alguém que se balança em uma rede num dia ensolarado.

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