domingo, 6 de dezembro de 2009

A viúva

Ele te deu flores e te pediu que calasse em silêncio. Ele te pediu flores e em silêncio desceu. Calou. Trouxe-te dores. Teus soluços ecoavam. Teu choro é como chuva em noite silenciosa. Tu deitas por cima do peito dele. E posso ver que ele não chora. É estático. Imóvel como deve ser. Ele desce. Posso sentir tuas dores no teu silêncio. Entre as flores que ninguém comprou. Uma viúva sem vestido negro. Uma viúva que engolia o choro. Esquece que não se chora com a boca. Então lágrimas sempre descem. Sempre salgam bocas alheias e próprias. Boca salgada com batom de cereja.
Dos outros as dores não importam. Não há ninguém ali mais perdida que tu. Aos meus olhos os olhos alheios não são nada. Os olhos alheios não te conhecem como minha boca. E tua boca me fala palavras soltas. Nenhuma faz sentido. Nada ali é sentido para mim, além do teu choro. O choro alheio é apenas barulho ecoando. Um coro. Uma canção que tu não cantas. E se não cantas nestas noites. Não quero escutar mais nada. A voz alheia é só parte do cenário. Assim como aquelas flores.
Flores molhadas me lembram o cheiro do teu cabelo. Ou talvez, eu queira te lembrar desta maneira. Com cheiro de flores que caem em túmulos alheios. Cemitérios a parte, sempre me interesso por tragédias. As alheias são as melhores. Principalmente molhadas com lágrimas tuas. Teu soluço a me fazer um alguém a mais. A te consolar um homem maior. É quando tu choras que se inclina sobre meu corpo. E eu não posso negar mais. Não vou me negar mais. O teu choro alimenta o meu egoísmo em enterros alheios.
Alimenta-me com sensações de poder absoluto sobre mulher frágil. Com sensações de mulher frágil sobre homem absoluto. E somos todos adultos. Nossas regras que desenhamos. Linhas que flutuam em músicas descompassadas de uma banda qualquer que toca. Sou eu a segurar essas linhas e essas regras. A puxar o teu cabelo e te consolar em meu ombro. E a pedir sutilmente que durma comigo esta noite.

4 comentários:

  1. Eu podia ler esse texto de qualquer jeito e saber q era teu.
    Existe batom de cereja?

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  2. uia
    a tua é a postagem número 100!!
    meus pagabéééns

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  3. existe sim batom de cereja... e eh uma delícia - dik

    tah taum impresso assim q eh meu?

    yupiiiiiiii! eu sou o número 100!!!! \o/
    e agora?!

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  4. agora tu escreve o 101 e a vida continua até o 150

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