segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Da condição de idiota

Não apenas de idiotice vive o idiota, mas de toda faísca de tédio que o ilumina. Pode se perceber, então, que aquilo tudo que se fez nem era preciso. Talvez não fizesse diferença o estresse em parecer atraente, em mostrar-se sempre vivo em comentários e ações. Não foi na busca de sobressair-se que o pequeno sentiu-se grande e que o opaco brilhou como nunca. Não foi no esforço em fazer coisas notáveis, que se encontrou o desejado reconhecimento.

Desnecessário acompanhar as últimas tendências, em cento e vinte e cinco canais. Nada além de inútil escutar todos os últimos álbuns mais tocados da semana. Porque quando há uma escolha pela quantidade, não há tempo suficiente. Não se degusta. Além do mais, a admiração dos outros se vai rápido como todo crepúsculo e deixa sempre o idiota só, precisando fazer tudo de novo, a introduzir-se incansavelmente no ciclo de conquista de sorrisos amarelos.

Ele acha que é especial, que sua existência faz diferença para a continuação da vida na Terra. Ele se julga capaz de grandes feitos, de transformação brutal do que há de errado e feio no mundo. Mal sabe ele que se capaz for de procurar em si seus bons três acordes melódicos e repeti-los; suas boas cinco frases de efeito e guardá-las para si; sua combinação de passos dançantes; suas misturas exóticas de desejos inadmissíveis; talvez, com muita sorte, esteja salvo. Ele não faz idéia que a boa arte só realmente entendida por quem a faz.

O tédio o aproxima de si. Permite analisar com mais calma o sabor de suas ações. O que ele tanto se preocupa em conseguir é realmente digno? O que faz bem? Apenas no tédio, o idiota se permite parar de correr e girar a roda de sua gaiola. A tontura diminui aos poucos. E vê, que para sua terrível surpresa, que não há ninguém assistindo. Ninguém presta a menor atenção em seus árduos esforços de ser uma estrela cadente.

O idiota não sabe que é apenas sombra, como todos os outros. Ele, às vezes, desconfia, mas faz de tudo para esquecer a possibilidade. Sombra que se vai rápido, que não se conhece, nem pode. Envolvida está em despertar o interesse alheio, em ser amada e aceita. E isso leva tudo. Não sobra nada que a idiotice para o idiota.

Um comentário: