sábado, 7 de março de 2009

Dia qualquer

Não sei porque escrevo. Na verdade, nem sinto mais aquela louca vontade de sair rabiscando o papel (qual papel?), talvez por ter a exata presunção de que o que escreverei causará espanto, dor, algo magnânimo. Não posso ouvir grandiosos comentários por saber que ao ouvi-los tenderei a estagnar ao satisfatório do meu ser. Não sei se escrevo para mim, para o outro, para ser, para chamar a atenção (minha? sua?).
Tudo começou quando passei a esperar. Esperar vir algo grandioso dentro de mim para vender. Algo grande (realmente). Algo que tivesse força suficiente de atingir a qualquer um que, por acaso, topasse no caminho. Esse pensamento ainda me é vivo. Porém não creio mais que minha barreira seja por causa da conseqüência de minhas "poderosas" palavras. Creio que parei de escrever por sentir que dentro de mim se precisava exteriorizar e que existe tamanhas profundezas e arranhões, tamanhas controvérsias, sem qualquer noção e sabendo desse gigantesco paraíso, na minha ânsia de escrever, na minha ansiedade de ver, acabava perdendo, passando por cima de misteriosos detalhes. Então, em vez de preenchido, vazio ficava. Achando estar certa no caminho que seguia, não degustava cada palavra. Ansiava o desfecho sublime, somente. De repente, parei. Tive que voltar para algumas palavras. Entender não vem ao caso. Tive que encontrar possíveis segredos. Deu medo. Eu que nunca me contei nada não queria ver tamanhas atrocidades que guardava dentro.
Ainda não sei porque escrevo. Perco fácil a vontade por não ter paciência suficiente de escrever por mim, de construir. Reproduzo aquilo que me foi bonito aos ouvidos. Porque para mim, o querer é uma incógnita. Ir pelo gosto, cheiro e gesto do outro me é tão mais fácil. Se ele gostou de alguma coisa, também gostarei. Se é para ser copia, também copiarei. Mas a mim é preciso querer também. Não mais ser esse piolho nocivo de cabeça em cabeça. Piolho oco cheio de sangue do outro. Mudar toda essa fôrma de espelho não me é fácil. Não sei querer.
Prefiro conviver com pessoas que a mim são diferentes e falam sobre o que não entendo do que me ouvir de verdades já tão óbvias e desgastadas. Não me confio. Então, me fiz de verdade outras palavras, pelo menos me inibia do jogo e caso houvesse controvérsias não precisaria me pronunciar e defender.
Nunca pensei que fosse verdade. O pior é tentar se mostrar e ver que é mais uma máscara. Cansei.
Em mim, não há lógica por não saber o que quero. Portanto, não sei porque continuo a escrever.

- Não sei porque escrevo.
- Escreva sobre isso.

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