domingo, 1 de março de 2009

Angústia

Em apenas alguns instantes, estaria imersa novamente naquela sensação. Eram apenas instantes que passavam fazendo tic-tac. O céu do quarto seria escuro com sinos a badalar. Chamando. Melhor, céu não haveria; sinos, muito menos. Era apenas silêncio transformado em tic-tac. Não haveria badaladas. Não haveria anúncio de nada. Nada aconteceria durante aquele infernal momento.
Tic-tac. Estou imersa nele. E ele parece o mesmo. Angustiante, repetitivo. Logo a sensação de que aquilo será eterno me preenche. Logo sinto que não existia antes, que não existirá depois. O agora se torna eterno, não há mais tic-tac. Tudo é silêncio. Tudo é confuso e tão claramente ofuscante. Não ouço nada. Não sinto nada, além da minha respiração. E logo isso me parece artificial, como se tivesse sido forçada a respirar. Meus pulmões se enchendo de ar, involuntariamente forçada, esse respirar me deixa sem fôlego. Tonta me sinto, olhando para o negro que agora flutua sobre minha cabeça. Parece não haver mais nada além dele. Até eu faço parte desse negro que me rodeia. Faço parte desse pequeno teatro as escuras. Sou a marionete. Sou o boneco que balança conforme a vontade dele. Sou o algo que se situa entre o agora e o nunca. E não existo. Sou apenas essa respiração forçada, ofegante. Sou apenas pulmões funcionando forçadamente. Não me sinto mais. Não existo mais. Só a cheiros, gostos, sensações. Logo o que rodeia me preenche e me faz ser alguém. Sensações combinadas, formando estímulos a comando de um cérebro que responde involuntariamente, forçadamente. Não passo de órgãos trabalhando contra minha vontade. Sou tato, olfato, paladar, audição e visão. Não sou nada.

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