quinta-feira, 26 de março de 2009

Dimitri


Silenciosamente ela caiu, mas não no chão. Sem surpresa nenhuma. Não desejava, mas, de certa forma, aquilo me causava um bem desconfortável, um mal confortável. O gosto salgado vinha-me a boca, descia pela garganta. Mais um grito engolido. Mais alguns soluços digeridos. E essa digestão se prolongava cada vez mais, a ponto de me causar enjôos repentinos.


Embora esteja bastante cansado, nada tenho feito durante o dia todo, durante minha vida toda. Nada de interessante acontece. Não me esforcei pra conseguir nada, tudo veio a mim. Todo o nada que me rodeia quando estou imerso em nada além de mim. E o que há além de mim? Talvez me sentisse melhor se tivesse feito algo. O que há pra ser feito? Não há nada. Nada além de respirar. Inspirar fundo. Sem expirar.


Silenciosamente outra cai, mas não no chão. Parece bastante pesada. Tenho que engolir novamente. Sinto nojo. Não sei ao certo de quê. Talvez seja esse gosto salgado. Me sentia triste, eu acho. Talvez fosse o cheiro ao redor me lembrando de algo esquecido. Algo que eu parecia não querer lembrar. De qualquer forma a saliva descia como sempre, pesada, morna e salgada. Assim como aquela que já havia caído sem molhar o carpete.


Olhava ao redor e todos os lugares não continham significado. O que eu buscava quando observava os seus detalhes? O que eu precisava para ser mais um alguém em meio à multidão? Eu estava deslocado. Meu relógio havia parado em horas desconhecidas. Horas de enjôos e lágrimas que nunca caiam no chão. Me faltava algo. Algo que não saberia ao certo explicar. Talvez fosse amor. O que eu tenho não sei se é amor ou se é somente solidão. Uma falta desesperada de um alguém, de um alguém a mais, de mim mesmo, de um amor, de amor próprio. Uma falta de mim...


Há tantas coisas bonitas do lado de fora, mas elas não se encaixam em mim, não me fazem o menor sentido. Não me atraem. Tudo em mim é incompleto. Tudo em mim é incoerente. Não estou acompanhando o ritmo de todos. Todos parecem ter a mesma pressa. São os mesmos passos compondo uma música estranha. Um som desconhecido aos meus ouvidos. É algo de novo ao meu silêncio, mas é algo passageiro. Um som que penetra em mim e não me preenche. Meu silêncio em meio ao som de automóveis, gritos e buzinas. Meus olhos dançam, procuram algo, se perdem na fumaça. Logo estou imerso novamente. Logo estou perdido nos meus gestos sem motivações, nos meus sorrisos sem alegria, nas minhas lágrimas que não molham. Estou perdido dentro de mim. E o que há em mim? Eu não sei, mas sei que deve haver algo. Assim eu espero...

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